O cacau caiu 7,8% em novembro e deve se manter em queda nas próximas semanas, influenciado por novidades nos ambientes regulatório e comercial, demanda fraca e oferta “levemente folgada” nos principais países produtores. A projeção é da ICCO, a Organização Internacional do Cacau (International Cocoa Association, em inglês).
Em relatório analisando o mês de novembro, a entidade afirmou que a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar a sobretaxa de importação sobre o cacau, anunciada no dia 20 do mês passado, colaborou para colocar a cotação da commodity em tendência de queda.
Outro fator que ajudou a fortalecer o tom “bearish” no mercado, segundo a ICCO, foi o adiamento da EUDR, a lei europeia antidesmatamento.
Aprovada pelo Parlamento do bloco em abril de 2023, a legislação visa desincentivar o desmatamento em âmbito global com a finalidade de produzir itens agropecuários que depois são exportados para a Europa. O cacau é um dos produtos na mira da lei, junto de café, óleo de palma, madeira, carvão, papel e proteína animal.
Alguns especialistas e tradings viam no rigor da legislação um possível vetor de desabastecimento de cacau. Agora, com o adiamento, os países produtores ganharam tempo — um ano, no caso de negócios grandes, e um ano e meio no caso de médios e pequenos — para se alinharem às exigências de rastreabilidade e due dilligence.
“O adiamento permitiu que o comércio entre a União Europeia e os países produtores e exportadores continuasse sem exigências adicionais e imediatas de compliance. Isso aliviou as preocupações de curto prazo com a oferta e reforçou a percepção de ampla disponibilidade, o que é um fator de queda na cotação”, comentou a ICCO.
De acordo com a entidade, outros fatores que colaboram para a tendência de baixa são as previsões de oferta “levemente folgada” e os dados mais recentes sobre o consumo na União Europeia e na Ásia.
“Os números reforçaram que o mercado de cacau está vivendo uma fase de queda na demanda. Os preços altos vistos nos últimos anos causaram reduções significativas na demanda, tanto a industrial quanto a do consumidor. Essa contração tem sido um fator-chave para as quedas nas cotações observadas em novembro.”
No relatório, a entidade traça ainda um comparativo com novembro do ano passado, quando preocupações com a oferta elevaram a cotação de US$ 6,5 mil para US$ 11,4 mil — um dos picos do rally observado a partir de 2023 e principalmente em 2024.
Produção estável no Brasil
No Brasil, a estimativa mais recente da AIPC (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau), divulgada nesta semana, é de uma produção entre 170 mil toneladas e 180 mil toneladas na safra 2025.
Com isso, o resultado deve ficar um pouco abaixo da estimativa mais recente da ICCO para o País, que apontava para 180,8 mil toneladas. E deve ficar em linha com a produção em 2024, que foi de 179,4 mil toneladas, segundo a AIPC.
Em ambos os casos, o volume é bem menor do que a demanda nacional por cacau, estimada em cerca de 300 mil toneladas — uma marca que tanto a ICCO quanto a AIPC esperam que possa ser atingida até 2030 por meio de investimentos em tecnologia e manejo de pragas.
No mundo, como destacou para The AgriBiz o diretor da ICCO, Michel Arrion, a expectativa é de aumentos de produção em países como Equador, Camarões e Nigéria.
Segundo a entidade, esses crescimentos devem mais do que compensar as leves perdas projetadas na Costa do Marfim e em Gana, os dois maiores produtores globais.




