O bairro Nova Campinas, localizado na zona leste, é um dos locais mais valorizados de Campinas. Nascido em 1945, sob o conceito de “bairro-jardim”, o local foi por décadas um refúgio residencial, marcado por casarões de alto padrão e uma atmosfera de tranquilidade. No entanto, o crescimento constante da metrópole e mudanças urbanísticas transformaram o bairro em um polo comercial e gastronômico sofisticado, um “novo Cambuí” para alguns, embora moradores e comerciantes prefiram enaltecê-lo por suas características únicas.
Hoje, segundo a Prefeitura de Campinas, o Nova Campinas abriga uma população estimada em 3.753 habitantes, que vivem em cerca de 2.628 domicílios, entre casas e apartamentos. Com uma área de 1,684 km², o bairro vê o crescimento com a chegada de ao menos 12 novos empreendimentos desde 2024.
Ponto de encontro da juventude da região
Muito antes dos edifícios modernos e das lojas de grife, o Nova Campinas era o palco da juventude que frequentava os clubes tradicionais e os melhores colégios da cidade. E o grande ponto de encontro dessa turma era a Padaria Inca.
A Padaria Inca ficava próxima ao balão da Avenida Carlos Stevenson, mas seu impacto se estendia pela vizinhança. “A gente se encontrava lá no final de tarde (depois de ir ver as meninas nas saídas do Culto à Ciência e Imaculada) e às vezes jogava bola no jardim do balão da Inca”, relembra Rodrigues, cuja família se mudou para o bairro em 1958 ou 1959. A casa da família, que se tornou figura conhecida do bairro, ficava na R. Odila Mais Rocha Brito, vizinha da Padaria Inca, que era, principalmente, um ponto de reunião noturno. “O pessoal ia namorar, deixava as namoradas em casa e ia pro Inca pra ficar lá na frente, pra jogar conversa fora”, diz.
A Padaria Inca ficava próxima ao balão da Avenida Carlos Stevenson, conhecido como “Balão da Inca” ou Praça Franklin Roosevelt. O local se transformou em um espaço para “aventuras mais transgressivas”, como chama Rodrigues.
Ações radicais
O convívio dos jovens na Nova Campinas era marcado por atividades arriscadas, mas também pela diversão. No início, a padaria tinha um pebolim na parte externa. No entanto, o asfalto das avenidas era usado para “tirar um racha”, resultando até na perda de amigos em acidentes. “Vários amigos perderam a vida em acidentes de automóvel. Era coisa de correr muito”, lamenta, citando que a falta de segurança dos carros e o excesso de velocidade contribuíam para as tragédias.
Outra “imprudência”, como classifica o morador, era a corrida de carrinho de rolimã pela Rua Odila Maia Rocha Brito. “A polícia sempre vinha, a garagem de minha casa era o esconderijo dos bólidos”, conta.
A vida na Inca também viu a chegada do famoso comerciante português José dos Santos Antônio, o Zé Português, que foi dono do comércio. Ele relembra a época em que o local foi invadido por guloseimas e “arruaças”. Ele recorda que o local virava palco de brincadeiras perigosas e até furtos.
A transformação urbana
Com o tempo, o bairro-jardim, tombado pelo CONDEPACC (Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico Cultural de Campinas), em 2004, para proteger suas características urbanísticas, começou a se moldar a uma nova realidade. A partir da década de 1990, o Nova Campinas deixou de ser exclusivamente residencial e se tornou uma área de uso misto, abrigando edifícios comerciais, consultórios médicos, restaurantes e lojas. A aprovação do Plano Diretor, em 2018, flexibilizou a ocupação do solo, possibilitando a verticalização e o surgimento de empreendimentos modernos.
Hoje, o Nova Campinas oferece uma infraestrutura completa. O comércio é diversificado, incluindo redes de supermercados e uma gastronomia de destaque, com restaurantes renomados, como Katori Sushi, Kansas Steak, Quintal Mediterrâneo, Notre Pane, Wood Café e a tradicional Boulangerie de France.
Viver o bairro

Para a comerciante Maria Letícia Schaefer, a Leca, proprietária da Cozinha da Leca, a escolha do Nova Campinas para fazer negócio não foi por acaso. “Nossa ideia era ter um espaço físico central, aconchegante, com um astral de ‘casa’. O Nova Campinas tem essa energia!”, afirma. O restaurante, que tem apenas um ano e meio no bairro, já percebe o crescimento “latente” do entorno, com mais comércios e prédios.
Leca comenta que o Nova Campinas tem sido uma ótima “vitrine” e um “ponto estratégico” para o negócio. O posicionamento do restaurante, com uma proposta de ambiente “jardim de casa” e gastronomia saudável e caseira, agrada o público, que valoriza a sofisticação nos detalhes. “O cliente se sente parte, e não só mais um cliente”, destaca.
Ponto de fé
Um marco religioso e social do Nova Campinas é o Santuário de Santa Rita de Cássia. O morador Roberto Morelli lembra a importância da igreja para a rotina da vizinhança: “A Santa Rita sempre ficava lotada nos domingos desde que moro aqui, além de ser o ponto de encontro durante as missas de noite”. Ele também pontua as mudanças físicas: “Só que não tinham essas grades que agora colocaram”, finaliza.
O Santuário, que foi elevado a santuário diocesano em 2022, fica na Avenida Jesuíno Marcondes Machado. Morelli recorda que essa via era palco de rachas de carro na frente do local de devoção.
Com a modernização, novos desafios surgem. Leca comenta que a dificuldade para estacionar é um “único importuno” na região. Ela ainda acrescenta que, junto com o crescimento de prédios e comércios, também vem o “ônus da segurança e assaltos”, o que mostra um lado menos glamouroso da transformação do bairro.
Legado

Entre a saudade do balão da Padaria Inca e a ansiedade pelo progresso, a verdadeira história do Nova Campinas reside nas vozes de quem o viveu e o molda: dos amigos, das madrugadas de baralho e de quem tenta manter a “energia de casa” em meio ao crescimento.
O antigo morador Roberto Morelli resume esse sentimento de nostalgia: “Caminhávamos e andávamos de bicicleta o tempo inteiro, sem problema de violência e muito menos trânsito. Era comum ir na casa dos amigos, perto do shopping. Era uma vida mais saudável. Então era uma época que sinto saudades. Brincávamos na rua e me faz lembrar dos bons tempos de tranquilidade, esse bairro maravilhoso”, afirma.
Vozes da Nossa Gente Campinas
O projeto multimídia “Vozes da Nossa Gente Campinas” é um projeto multimídia de conteúdo, desenvolvido pela redação do acidade on e pela Faculdade de Jornalismo e curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. A parceria de jornalismo hiperlocal contará a história de dez bairros da metrópole em reportagens, imagens e vídeos.
Esta matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Anielly Ferreira, Eduardo Tolentino, Gabriel Barbosa Leite, João Pedro Bertuzzo, Mário Casemiro Neto e Raphael Guerra, para o componente de Projeto Integrador VIII, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leandro Las Casas.




