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Taquaral: conheça as raízes e as memórias do bairro em uma volta na Lagoa

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Quem passeia hoje pela Lagoa do Taquaral, em Campinas, nem imagina as origens humildes do bairro. O nome, aliás, vem da vegetação nativa que dominava a paisagem no passado. “Taquaral é um termo genérico que você vai ver em diversas cidades do Brasil. Em geral, a expressão se refere a um local no qual há grande quantidade de taquara, um tipo de vegetação que costumamos chamar de bambu”, explica o historiador Américo Baptista Villela, mestre em História da Educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e integrante do Museu da Cidade de Campinas

Mas a importância da região vai muito além da origem do nome. Suas terras foram, no passado, uma importante zona rural, parte da sesmaria de Francisco Barreto Leme, o fundador da cidade. “Com o declínio da mineração, deu-se início à plantação de cana e, posteriormente, do café. Com a cultura cafeeira, iniciou-se um processo de industrialização da região”, contextualiza o historiador.

Foi apenas no início do século XX, no entanto, que o embrião do bairro como o conhecemos começou a se formar. É nesse período que surgem as primeiras notificações na Prefeitura de pessoas pagando impostos, tendo em vista que o comércio já estava em funcionamento.

A identidade do bairro voltada ao lazer, hoje tão marcante, foi uma característica que se consolidou com o tempo. Em um primeiro momento, o Taquaral funcionou principalmente como uma área residencial para trabalhadores, especialmente em seus loteamentos iniciais nas décadas de 1950 e 1960. A virada de chave veio com a construção do Parque Portugal e sua lagoa, que alterou profundamente a malha urbana e a identidade do local. 

“A Lagoa do Taquaral é reconhecida como o Ibirapuera campineiro. Ela é um dos principais cartões postais de Campinas, é um elemento identitário e, ao meu ver, o que diferencia esse bairro dos demais é que ele é a origem da cidade”, afirma Américo. 

Apesar do desenvolvimento, a memória do Taquaral enfrenta desafios. “Nós temos um bairro que se desenvolve, que se urbaniza, apagando marcos da sua própria história e descaracterizando inclusive algumas áreas que se mantém preservadas”, alerta o historiador. “Isso é uma coisa que inspira preocupação, principalmente com as tentativas de verticalização da região, que era proibido”, avisa.

O ponto de encontro: vida, comércio e atividades atuais

O Taquaral é um dos bairros mais tradicionais e conhecidos da metrópole. Além de acomodar uma parte da população, o “Parque Portugal”, ou popularmente conhecido como a “Lagoa do Taquaral”, um dos principais parques da cidade, é um dos pontos de encontro de muitas famílias e cidadãos aos finais de semana, por oferecer diversas atividades de lazer. 

No local, é possível praticar caminhada e corrida ao ar livre em seu entorno. As atrações incluem tirolesa, pedalinhos, parques para crianças e uma caravela aberta à visitação. O parque ainda abriga o ginásio Alberto Jordano Ribeiro (casa do Vôlei Renata), o Museu do Esporte e o Museu Dinâmico de Ciências.

Apesar de a Lagoa ser um dos pontos mais marcantes da região, a presença de uma ampla variedade de comércios e restaurantes torna o distrito ainda mais visitado e frequentado. Em termos de estrutura, o Taquaral concentra cerca de 3.917 estabelecimentos de comércios e serviços. Esse crescimento e as diversas modificações ao longo dos anos evidenciam o desenvolvimento do local. 

Uma das pessoas que presenciou as mudanças do bairro é Paulo Sérgio, de 62 anos, um dos donos do Salão Taquaral, que mantém suas atividades desde 1980. Ele relembra como era a região: “Em 1980, a rua Paula era em dois sentidos, ainda existiam algumas indústrias, como a de tecidos Ceasa, açúcar Pérola, laticínios Levo, e estavam surgindo os primeiros conjuntos de prédios. Ainda tinha o Cine São José e a danceteria Estratosfera”, comenta.

Mesmo com as profundas transformações e o surgimento de novos empreendimentos, Paulo Sérgio mantém o Salão Taquaral ativo desde 1980, resistindo às mudanças do tempo (foto: acervo pessoal)

Para Paulo, apesar das profundas transformações do bairro, seu comércio ainda demonstra resiliência: “Eu acredito que mesmo com as transformações que o bairro sofreu, muitas ruas que eram residenciais passaram a ser comerciais. O salão ainda tem rotatividade, muitas pessoas acabam deixando [de frequentar], mas ainda temos novos clientes”.

As histórias e as memórias de quem viveu o Taquaral

Carolina Rodrigues, de 23 anos, é analista de comunicação e mora no bairro desde que nasceu. Ela relata que crescer no Taquaral foi um privilégio e que sempre gostou de morar ali. Com carinho, conta as lembranças que carrega consigo: “Lembro de desde muito nova frequentar a Lagoa durante os finais de semana e férias para passar as manhãs, andar de bondinho, de pedalinho e comer milho”.

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Carolina (23) afirma ser um privilégio crescer no Taquaral. A Lagoa, que ela frequentava desde nova para passeios, hoje é parte essencial de sua rotina de exercícios (foto: Carlos Alberto de Sousa Melo)

Além das memórias afetivas ligadas à Lagoa do Taquaral, Carolina observa que, desde sua infância, o bairro passou por diversas mudanças, como a chegada de novos comércios e construções. “Aumentou muito a quantidade de comércios no bairro e a chegada de restaurantes, bares, lojas e o aumento na quantidade de prédios e condomínios de casas, que há 20 anos eram inexistentes”, comenta.

O sentimento de nostalgia e a percepção das transformações são compartilhados por outros moradores. Giulia Cunha, de 22 anos, é engenheira e também nasceu no Taquaral. Ela relembra o cenário de sua infância: “Eu nasci ali pertinho da Lagoa, quando tudo ainda era mais mato do que rua asfaltada. Não tinha tanto prédio, nem esse trânsito louco. Era chão de terra batida, cheiro de terra molhada depois da chuva, e a criançada correndo descalça sem medo. Antes era um bairro onde todo mundo se conhecia pelo nome. Agora tem prédio, tem bar, tem restaurante fino”, conta.

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Moradora desde o nascimento, Giulia Cunha testemunhou o Taquaral se transformar de um bairro de vizinhos em que todos se conheciam para uma área repleta de novos estabelecimentos e edifícios (foto: acervo pessoal).

No entanto, são as memórias despretensiosas da infância que permanecem mais vivas, como a situação que viveu aos 12 anos com os amigos: “Eu e meus amigos resolvemos montar um carrinho de rolimã. Descemos a rua do talude com tudo, só que esquecemos de fazer freio. Resultado? Fui parar dentro do quintal da dona Lurdes, no meio do pé de hibisco dela. Tomei bronca, mas até hoje dou risada”, relembra.

Curiosidades

A caravela é uma réplica da embarcação que trouxe Pedro Álvares Cabral para o Brasil, remetendo à história das grandes navegações. A versão campineira tem 28,30 metros de largura e 38 metros de altura.

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A Caravela do Taquaral, réplica da embarcação de Cabral, atrai visitantes que buscam lazer no Parque Portugal e é um dos monumentos mais fotografados da cidade (foto: João Marcelo)

Vozes da Nossa Gente Campinas

O projeto multimídia “Vozes da Nossa Gente Campinas” é um projeto multimídia de conteúdo, desenvolvido pela redação do acidade on e pela Faculdade de Jornalismo e curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. A parceria de jornalismo hiperlocal contará a história de dez bairros da metrópole em reportagens, imagens e vídeos.

Esta matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Giovanni de Paula Feltrin, Thais Helena Barone Lucas, Nicole Gonçalves, Raquel Santana dos Santos, Rita de Cássia de Lima Miguel e João Marcelo Nucci Marrey, para o componente de Projeto Integrador VIII, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leandro Las Casas.



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